segunda-feira, agosto 25, 2008

Cuscuz paulista em Lisboa

CUSCUZ PAULISTA EM LISBOA
(em 4 actos)

1º ACTO: O DESAFIO


Num dos “passeios” pelas cozinhas virtuais da blogsfera chegamos ao Intercâmbio Culinário da Ameixa Seca, Nana, Axly e e deparámo-nos com a proposta de troca de receitas entre as cozinheiras do Brasil e Portugal. Que boa ideia! Vamos lá participar!

Primeiro tínhamos que formar um par... radares alerta... e encontrámos a Márcia do Ideias à la Carte com a mesma vontade.
Mails p’ra cá e p’ra lá... fomos consolidando o par... escolhendo as receitas...
que coisa boa!... vamos até sentindo uma certa “sintonia” com uma pessoa que só conhecemos destes espaços virtuais! não deixa de ser surpreendente!

Estava formado o par:




Agora é escolher a receita... o Ideias à la Carte tem tanta coisa boa... o que é que havemos de fazer?

Como sabem, temos passado (e alma) brasileira e por isso queríamos fazer uma receita diferente, daquelas que não fizesse parte das nossas memórias da cozinha da vovó (carioca).

E aí lembramos de um prato que já tínhamos comido no Brasil, mas que nunca tínhamos cozinhado: cuscuz paulista. E para sobremesa?... uhm... deixa ver... aí lembramos de algo que a vovó Nair fazia, sempre pela Páscoa, canjica.

Pronto! Tomada a decisão. Agora... “manda a receita Márcia”... “será fácil?”...
Começamos aqui pelo cuscuz paulista, para manter a “ordem” do serviço: primeiro o prato depois a sobremesa!

2º ACTO: A PREPARAÇÃO

E o que é isso de cuscuz paulista? Conhecemos o cuscuz marroquino (que aqui está postado), conhecemos o cuscuz baiano (também já aqui)... mas paulista?? o que é isso?

Primeiro engano: pensava que era feito com sêmola de trigo (aquelas bolinhas do cuscuz) e... surpresa... era feito com farinha de milho e mandioca!!

cheias de curiosidade fomos à procura e encontramos na “Jangada Brasil” a história do cuscuz e do “paulista”. Ficamos a saber que há várias maneiras de fazer cuscuz... sendo um prato de origem de origem africana (África Setentrional), conhecido do Egipto a Marrocos, era tradicionalmente feito com arroz, farinha de trigo, milheto, sorgo... e passou a ser feito com milho a partir do século XVI, com a irradiação do milho (zea mays). E parece que afinal era prato popular aqui em Portugal que o trouxe do contacto com os povos berberes. E até o cuscuz doce parece que era feito em Coimbra, no Mosteiro de Celas! Inacreditável! E porque deixaram de o fazer???
Também toma várias formas, de carne, de legumes, de peixe, com leite e açúcar... enfim... cada local e cada povo foi fazendo as suas adaptações...

E o “paulista”? Ficamos com a hipótese de Cristiana Couto, do livro “Viagem Gastronómica através do Brasil” (Senac) que a “origem do cuscuz paulista é o farnel (farinha, frango guisado ou feijão e ovos cozidos, amarrados em um guardanapo grande) dos bandeirantes e tropeiros”.



Bom... chega de informação e vamos mas é às compras!
Levamos a Dolly connosco... gosta sempre de um passeio, mas não gostou de ter de ficar à porta!



Os ingredientes a comprar? Seguimos a sugestão da Márcia... (e a indicação da quantidade utilizada) com algumas – pequenas – alterações...



- farinha de milho (3 chávenas de chá) – compramos o que aqui se chama “sêmola de milho”
- farinha de mandioca (1/2 chávena de chá)
- 500 g de camarão médio (compramos congelado)
- cenouras (2)
- azeite (3 colheres de sopa)
- cebola (1 grande)
- tomates (5 maduros)
- salsa (um molho)
- alho (4 dentes)
- palmito (1 lata)
- ovos (3)
- azeitona verde (1 chávenas chá)
- ervilhas (1 lata pequena)
- sal e pimenta q.b.
- cubo de peixe (1)
- sardinha (1 lata, em azeite)
- concentrado de tomate (usamos o de tubinho)


3º ACTO: O COZINHADO

A primeira coisa a fazer foi colocar a receita à mão para ser seguida. Tínhamos a receita da Márcia... mas deparámo-nos com um problema: não tínhamos a cuscuzeira... e a nossa forma de buraco era daquelas que solta o fundo e, por isso, não dava para levar a “banho-maria”!!
O que fazer?! lá voltamos para a net... e percorremos várias receitas... várias sugestões e encontramos algumas que sugeriam um cozimento diferente...
e não é assim que as receitas vão evoluindo? nada de apertos!... é preciso avançar...


e fomos preparando utensílios e ingredientes.

Primeiro descascamos os camarões, levando as cascas e cabeças para ferver com 1 ½ litro de água, temperado com o caldo de peixe (1 cubo), sal e pimenta.
Deixamos ferver por 15 minutos; o camarão foi colocado numa peneira (salpicado com sal) em cima da panela para cozinhar no vapor (retirei logo que ficou rosado).
Coar o líquido e reservar.
Entretanto fui preparando os outros ingredientes:

- limpar as cenouras, cortar em rodelas e lavar a cozer em água temperada com sal (no fim, juntei essa água ao líquido dos camarões)
- as latas abertas e escorridas; retirei a espinha do meio às sardinhas e cortei os palmitos em rodelas (de 1 lata, guardei metade inteiros, para a decoração);
- a cebola e os alhos foram picados miudinhos;
- o tomate também foi cortado (reservei 1 em rodelas, para decoração)
- retiramos o caroço das azeitonas e picamos;
- picamos também a salsa, miudinho (para picar tudo... entrou em função o processador)
- misturamos as farinhas
- cozemos os ovos (picamos 2 grosseiramente e 1 foi cortado às rodelas)

Agora vamos lá fazer o prato... ai que medo!!! será que vai dar certo? ainda vou ter que fazer ovos mexidos para o jantar!!! ainda bem que tenho uns queijinhos dos Açores... e um pão de sementes saboroso...


- refogamos a cebola e os alhos picados em azeite, até ficarem douradinhos;
- acrescentamos o tomate picado e deixamos cozer... (sempre que secava ia juntando um pouco do líquido dos camarões que tinha reservado); temperamos com sal e pimenta; e acrescentamos um pouco do concentrado de tomate;
- depois fomos juntando as farinhas e o líquido, fazendo isso vagarosamente, em fogo baixo, misturando muito bem... e, sempre mexendo, fomos deixando as farinhas cozinhar (rectificar o sal e pimenta)... quase no fim juntamos os outros ingredientes: ervilhas, palmito, salsa picada, ovos, azeitonas, sardinhas, cenoura, os camarões (reservamos de tudo para os enfeites).
Deixamos ficar uma mistura uniforme e ligada... tudo isso foi feito lentamente, para deixar as farinhas cozinhar.

- pronto, rectificar os temperos... um pouquinho de sal... moer mais um pouquinho de pimenta... já está... uhmmmm..... está saboroso...

agora é montar o prato...

untamos a forma com azeite...
colocamos no fundo da forma e nas laterais algumas rodelas de tomate, de ovo, ervilhas, cenouras... criando uma decoração...
colocamos a massa do cuscuz, ajeitando e apertando para ficar homogéneo.


e já está! deixamos esfriar... até à hora do jantar.


4º ACTO: A FESTA

Claro que tínhamos que fazer a festa em conjunto. Todos ficaram sabendo desta nossa aventura! O intercâmbio culinário ficou famoso!
Foram chamados e vieram, a Rica, o Ernesto, a Bibi, a Celeste e o António, a Paula e nós, claro!

a noite estava perfeita... um calor bom e uma lua cheia no céu de Lisboa, encantadora!
O maridão tratou de colocar o vinho branco “Alvarinho” no frigorífico... que a noite prometia!

E fomos desenformar... será que sai?
SAÍU!!! Lindo!!!! máquina fotográfica a postos!!! de todos os ângulos!!!




Vamos lá comer!!!

uhmmmmm...... delicioso!!!

missão cumprida!!! com sucesso!


Obrigado Intercâmbio Culinário pelo desafio! Obrigado Márcia pela sugestão.

escreveu-se mais uma página da história do cuscuz:
cuscuz paulista em Lisboa... em noite de lua cheia... com amigos do coração!

(ah!... é verdade!!! querem saber da canjica??? fica para a próxima!! depois contamos!!!)

9 comentários:

Gourmandisebrasil disse...

Adoro!
Sabia que só o cuscuz paulista que é salgado? No resto do Brasil é doce!
bjos.

Laurinha disse...

E o cuscuz paulista permite algumas variaçãos... somente vegetariano, ou só com pertences do mar, ou de frango, ou...
Este seu foi feito no capricho, está lindo, parabéns!
Beijinhos

Claudia Lima disse...

Parabéns! Ficou ótimo!
Deu para vivenciar cada minuto a partir da descrição de vcs.
Bjs :)

ameixa seca disse...

Uau... que aventura! Ainda bem que gostaram de participar ;) Tenho uma pergunta: que puseram no meio do cuzcuz? Parece salsicha mas não sei...
Obrigada pela participação ;)

Bergamo disse...

O cuscuz está com uma cara ótima!!! E está certíssimo. O cuscuz paulista não é feito no vapor e sim diretamente na panela, como um angu. Somente o cuscuz nordestino é feito no vapor.
É muito comum, aqui em são paulo, colocarmos sardinha (camarão quando é uma ocasião sofisticada) tomates, ervilhas, palmito, milho.
Eu adoro!!! Bem temperadinho...hummm
Parabéns,
Bergamo

Adriana disse...

Deixou um pedacinho para mim???
Adoro cucuz!!

Elza disse...

Olá!!
Sou brasileira morando a 4 meses em portugal, sou nordestina no brasil e adorei encontrar o blog de vcs...já está nos meus favoritos e sempre estarei por aqui.
E farei o cuzcuz, assim que encontrar o massa de milho.
aliás se eu for no continenete encontro isso?

bjins

Elza santos
Diário de viagens.
=]

Alcione Torres disse...

Obrigada por responder à minha mensagem! Boas férias!
Abs.

http://odeiocozinhar.blogspot.com/

oquefazerprojantar??? disse...

Oi minha gente!!
pois é... temos estado de férias... viajando por terras brasileiras... e provando muitos "quitutes" que depois relataremos aqui.

ainda bem que gostaram do nosso cuscuz!
Ameixa, o que está no meio é palmito inteiro... achamos que ficava bonitinho.

Obrigado por todos os comentários.
e até breve.